segunda-feira, 18 de maio de 2020

#04| Podcast Revelando-Ser| "18 de maio - Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes"


Para ouvir o episódio, clica aqui: #04| 18 de maio - Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes

No episódio de hoje recebemos um convidado muito especial: o psicólogo João Villacorta, que trabalha há 13 anos no CERCCA - Centro de Referência para o Cuidado de Crianças, Adolescentes e suas famílias em situação de violência.

Conversamos sobre a importância do dia 18 de maio e como é importante falar sobre esse assunto, diante de tantos casos que ainda acontecem todos os dias no nosso país e no mundo.

Sentimos que essa foi apenas uma conversa inicial que abre portas para outras participações do João no nosso podcast.

Para conhecer mais sobre o projeto, visite o site revelandoser.org , pelo Instagram @revelando_ser ou pelo e-mail revelandoser@gmail.com

O CERCCA fica na Policlínica Lessa de Andrade, no bairro da Madalena, na cidade de Recife. Telefone: 3355-7802. Email: cerccasaude@gmail.com

Ficha Técnica:
Vozes: Guilherme Assunção, João Villaorta e Quezia Cordeiro
Gravação e edição: Marcelo Sena
Realização: Projeto Revelando-Ser
Gravado no dia: 13/05/2020

#03| Podcast Revelando-Ser| "O muro do silêncio é real..."


Para ouvir o episódio, clica aqui: #03| O muro do silêncio é real...

Guilherme Assunção e Quezia Cordeiro falam sobre situações e contextos que compõe, reforçam, fazem parte do muro do silêncio que existe em torno das pessoas adultas que foram abusadas sexualmente na infância e adolescência.

Para conhecer mais sobre o projeto, visite o site revelandoser.org, pelo Instagram @revelando_ser ou pelo email revelandoser@gmail.com

Ficha Técnica:
Vozes Guilherme Assunção e Quezia Cordeiro
Gravação, edição e Vinheta: Marcelo Sena
Realização: Projeto Revelando-Ser
Gravado no dia 14/04/2020

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Qual o lugar dos monstros?


De uns tempos para cá, me senti tal qual a metamorfose ambulante do grande Raul: "Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes"...rsrs
Digo o oposto porque eu mesmo já escrevi um texto na época das eleições de 2018:

Mas esse post que escrevo agora não se trata, realmente, de uma oposição ao que escrevi há dois anos.  Mas parece.

Gostaria de iniciar lembrando o que já falei em outro escrito: falo, novamente, do meu lugar de fala, de um lugar de quem é privilegiado, de quem pode fazer quarentena, de quem continua trabalhando em casa, etc. Falo sobre o meu lugar e, talvez, do lugar de algumas pessoas que têm uma posição social parecida com a minha. Minha fala não pode ser vista para além de vários recortes necessários para dar conta da complexidade do nosso momento social.

Indo para o assunto propriamente dito.

Há algumas semanas participei de um grupo de cuidado com alguns psicólogos e psicólogas que trabalham dentro da perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa e o assunto começou a girar em torno de como estava sendo difícil lidar com o momento atual e, principalmente, com as declarações e posturas do nosso presidente diante de uma situação tão grave em tantos níveis diferentes e complexos. Durante esse grupo uma psicóloga amiga – que me autorizou a trazer esse momento dela no grupo aqui nesse post – começou a falar de como escutar o presidente evocava o que havia de pior dentro dela, que emergiam tantos sentimentos ruins, destrutivos, odiosos, que ela não sabia bem como lidar com tudo aquilo. Em algum momento ela simbolizou aquela experiência falando que ela sentia um monstro dentro dela e que ela tinha que ter muito cuidado para não deixar esse monstro sair, causando ainda mais destruição. Depois desse forte relato, outras participantes do mesmo grupo se identificaram muito com essa fala e passaram a falar também dos seus monstros. Pode parecer que eu tenha entendido errado, mas senti na fala dessas mulheres, o reconhecimento de algo muito ruim que se passa dentro delas, mas também um desejo de não deixar isso sair, por já perceberem ou acharem, que não contribuiria muito com uma real mudança do quadro atual trazer tanta destrutividade. Não pareceu simples conseguir equilibrar esses sentimentos contraditórios que elas viviam. Em algum momento do grupo eu perguntei qual era o lugar desses monstros. Conversamos sobre tudo isso, mas essa pergunta continuou ecoando na minha cabeça até hoje.

Tenho refletido muito sobre o quanto estamos inertes diante de tantas atrocidades diárias que nos bombardeiam ao longo desses últimos anos e que, pelo menos na minha opinião, se intensificaram ainda mais durante essa pandemia e o desgoverno que não consegue dar uma resposta necessária para o tamanho da crise que estamos vivendo. Também me reconheço na fala das mulheres que se colocaram no grupo citado, tanto na intensidade da raiva, como também no esforço de não propagar mais ódio, tal como eu escrevi no post anterior citado acima.

Comecei a ver o esforço que eu preciso para não dar vazão a toda raiva que sinto diante de tudo. O monstro é tão grande que comecei a desconfiar que o esforço que eu tenho que fazer para não pagar com a mesma moeda à toda a violência que sinto que tem sido praticada pelos políticos da extrema direita e seus seguidores tem um preço caro para mim. Sinto que quando o monstro aparece e eu, por acreditar que não seria humanamente útil, tento segura-lo de toda forma, tenho uma tendência a me adoecer por dentro, em um processo de implosão que também vem se apresentando como uma perda de energia. Parece que minha energia é gasta tentando me conter, sufocar o monstro e que, quando eu consigo essa proeza, parece não sobrar muito mais de energia para poder pensar efetivamente o que fazer proativamente no sentido de querer mudar alguma coisa.


Ao meu ver a minha raiva me joga para fazer algo de concreto, para não aceitar de forma alguma o desenrolar dos fatos, ela me leva a querer ir pro meio da rua e talvez fazer algo mais radical. Se eu escuto o meu monstro ele grita na minha cara que é inadmissível ninguém parar o presidente, seja qual for o custo; que não é possível que a minha resposta a essa loucura que vivemos seja “somente” ficar na quarentena, no meu lugar de privilégio, e fazer movimentos mais individuais de cuidados comigo e com as pessoas a quem tenho um acesso mais direto; ela me lembra o quanto os números são vidas e que não é possível esperar as eleições para tentar modificar as coisas dentro do jogo democrático, através de mobilizações, votos mais conscientes, etc. Minha raiva me parece muito descrente e desesperada. Desesperada e/ou desesperançada, no sentido de não achar que se tem mais o que esperar. Meu monstro me pergunta: “Qual o limite da barbárie? Até quando ainda é humano conviver com tantas monstruosidade sem fazer ‘nada’?”. Quase me sinto disposto à lei do talião.

Porém, de fato, esse post não é o oposto do que eu disse antes. Não acho que dar vazão de qualquer forma para o meu monstro seria a solução dos nossos problemas multifacetados, estruturais, históricos, complexos, etc. Não acho que se tem soluções mágicas e rápidas para sairmos dessa crise. Porém, gostaria muito de encontrar um lugar de equilíbrio entre não querer realimentar a guerra e o ódio dentro de mim e na sociedade, mas também não ficar como um mero expectador diante de toda sorte de desgraças que está sendo promovida pelo presidente e pelas pessoas que o apoiam. Mas é muito torturante ficar tão próximo da minha raiva e sentir toda a impotência dos momentos atuais. Por isso que eu acho que usamos como um mecanismo de defesa, esse lugar de se distanciar e ficamos mais inertes a tudo, restando uma mobilização de redes sociais.

Precisamos encontrar formas de não ficarmos somente intoxicados com essa raiva adoecedora que faz com que ou queiramos explodir para expurgar o veneno, ou perdermos toda a nossa vitalidade encontrando uma forma isolada de ir lidando com o monstro, depurando o veneno dentro do nosso organismo.

Talvez, para além de achar que o meu monstro é meramente destrutivo, eu possa significar que ele ainda é aquilo me mantém com algo que eu não posso perder de jeito nenhum: minha própria humanidade. Talvez o meu monstro tenha que não ser apenas amordaçado, mas sim direcionado para um lugar onde ele pode ser extremamente eficaz e propositivo e que toda a raiva que me perpassa possa se transformar em algo que de fato contribua para uma real mudança.

Não tenho uma solução pronta para isso. Talvez um bom começo seja encontrar espaços de cuidados para que possamos, de maneira segura, entrarmos em contato com os nossos monstros. Colocarmos ele para fora, para dialogar com os monstros de outras pessoas que tenham uma intenção semelhante e pararmos de termos medo dele. Como se sabe em psicoterapia: quanto maior a repressão, mais o conteúdo reprimido cresce! Talvez possamos, em conjunto, encontrar nas nossas sombras, na nossa raiva, na nossa indignação um lugar que possibilite lutar de maneira efetiva e contundente contra as monstruosidades de um sistema necropolítico, sem nos perdemos na nossa própria monstruosidade.


domingo, 10 de maio de 2020

Hoje é um dia muito especial



Hoje é um dia que decidimos compartilhar um pouco sobre como estamos felizes com a chegada do nosso segundo filho, Gabriel.

Desde que a pandemia chegou forte no Brasil que sabíamos que ele nasceria durante esse período, o que estava nos deixando apreensivos com esse momento. Em mim se passavam sentimentos contraditórios. Uma mistura de expectativa, de felicidade, de querer ver o rostinho, de querer pegar nos meus braços, uma ansiedade gostosa, ao ver que o dia estava cada vez mais se aproximando. Porém, junto com isso, seguíamos acompanhando a notícia do avanço do COVID-19. O aumento dos casos, a quarentena, os cuidados que passaram a ser necessários, o receio do colapso no sistema de saúde, pessoas de círculos mais próximos começando a adoecer e/ou falecer, etc. Uma apreensão que, por mais que tentássemos confiar que tudo daria certo, ainda insistia em se perguntar sobre como as coisas aconteceriam e se conseguiríamos ficar todxs bem.

E eis que chegou o grande dia!

Gabriel chegou a este mundo no dia 02 de maio de 2020. Numa manhã de sábado, de parto normal no hospital.

O trabalho de parto começou em casa. Pensávamos que ele poderia nascer em casa, tal como foi com a nossa primeira filhota. Mas, também sabíamos que cada parto é um parto e que cada criança tem a sua história, que isso não está sob o nosso controle.

Depois de algumas horas de trabalho de parto domiciliar, tivemos que ir para o hospital e essa parte não foi fácil para mim. Para além de um ideal de querer ter o parto do jeito que achamos o mais cuidadoso e respeitoso possível, tinha uma vontade de não ir para o lugar mais arriscado que se tem atualmente com a questão da pandemia. Mas, tal como eu falei, isso não foi possível controlar. Muitas coisas se passaram ao longo das duas horas que passamos entre a chegada ao hospital e o nascimento de Biel. Como o tempo psicológico pode diferir muito do tempo cronológico a depender do que esteja acontecendo, a sensação que eu tenho é que demorou muito mais do que isso. Se eu fosse relatar cada coisa que vivi e senti, esse post ficaria maior do que já ficará. Mas também não falarei muito sobre essa parte aqui porque eu não considero que foi o mais importante.

Sinto que Gabriel veio num momento de caos para o mundo, mas nasceu de uma forma extremamente calma, serena e também determinado, passando pelas dificuldades da sua chegada de uma forma que me até me ajudou a encarar às coisas de maneira mais serena também. A palavra que me veio à mente no hospital foi “esperança”. Essa palavra não veio à toa. Ao longo de uns 10 dias antes do parto, toda vez que saíamos para tomar banho de sol no nosso jardim aqui em casa, acompanhávamos o crescimento de uma esperança que estava se alimentando do nosso pé de amora. Apesar de não gostar de ela estar comendo nossas folhinhas, por estar apreensivo com o rumo das coisas em relação ao parto, achei que era um bom presságio permanecermos naquela companhia o tempo que pudéssemos.

Quando retornamos do hospital, depois de dois dias internados, percebemos que tinha uma esperancinha que não tínhamos notado até então...rs. Não sei bem como elas se reproduzem, mas na hora pensei: “Temos esperança brotando no nosso jardim! No meio do caos pode existir esperança!”. Esse sentimento permanece em mim e também tocou algumas pessoas que contei a história com mais detalhes.

Sinto que passado o susto do internamento, passando o medo de contágio (nenhum de nós desenvolveu nenhum sintoma até agora, mas ainda estamos nos monitorando), o que vai ganhando mais espaço dentro de mim é a alegria, a gratidão, o sentimento de união que Gabriel trouxe ainda mais para a nossa família. Vai ganhando mais espaço esse amor enorme de pai que eu não sei bem como explicar. Só dá para sentir! Vai ganhando mais espaço o movimento de ir lembrando como foi gostoso ter vivido um monte de coisas com a nossa primeira filha, a vontade de voltar a ver as fotos e os vídeos e ver como foi esse crescimento dela e que vamos viver novamente essa dinâmica gostosa com Gabriel a partir de agora. E ainda vamos ter a Lara, com toda a sua amorosidade, para vibrarmos ainda mais enquanto família. Vai ganhando mais espaço ver, novamente o quanto Gabriel é a cara do pai, assim como Lara (foi mal, amor. Juro que não torço para que seja assim, mas confesso que adoro também!!! Rsrsrs)
Seja bem-vindo, meu filho! Papai já te ama muito.

Se prepara que esse mundo em que vivemos anda meio de cabeça para baixo, mas isso não deve ser muito problema pra quem nasceu cefálico e de parto normal que nem você e a sua irmã...rsrs

Mas hoje também é um dia especial não somente por esse compartilhar do nascimento de Biel. Hoje também é um dia importante por ser o primeiro dia das mães, depois desse crescimento da nossa família.

Queria muito te agradecer, Bel, por seres a mulher e mãe que és! Nesse parto me conectei de maneira ainda mais forte com o sentimento de honrar a mulher que escolhi como companheira de vida. Ao longo de mais de 16 anos, estamos construindo uma história que me muito me orgulha em vários aspectos. Quando eu brinco que a cada filho que nasce, renovamos nosso relacionamento por, no mínimo, mais 18 anos, não é por uma questão moral e nem porque eu acho que esse é um tempo bom para cuidar dos pequenos. É porque sinto que em mim se renova o amor que sinto por ti desde o começo da nossa relação e que vai ganhando outros contornos, outras felicidades que não é somente de sermos um casal, mas sim de estar vivendo algo muito precioso e profundo nas nossas vidas. Quando nossos filhos nascem, a sensação que eu tenho é como se eles atestassem, comprovassem, fossem a prova viva deste nosso amor que nem sempre dá para se mostrar de maneira tão concreta (os chorinhos de madrugada são bem concretos mesmo...rsrsrs). Como sempre falo, nem tudo são flores. Sabemos disso desde o começo. Mas acho que temos sabido aprender e crescer com as dificuldades que têm aparecido e desfrutado de tantas coisas boas que a nossa relação tem nos proporcionado.

Eu tenho certeza que conseguiria encontrar um sentido muito bom e profundo para a minha vida se eu não tivesse te conhecido e se não tivéssemos nos relacionado. Porém, olho para tudo que estamos construindo juntos e reforço o que eu falei no dia do nosso casamento: “Eu não queria estar em nenhum outro lugar que não fosse aqui do teu lado!”. Muito bom saber que não é uma necessidade, que eu não preciso estar com você para viver, mas que essa é a minha escolha ao longo desses anos e que continua sendo a escolha que faz muito sentido pra mim.

Amo quem tu és. Amo quem eu sou contigo. E amo ainda mais quem somos juntos com os nossos filhotes.

Feliz dia das mães e obrigado por dividir essa vida linda comigo. Agora somos quatro! rsrs

Simbora que ainda tem muita coisa pra gente viver!