Portais de União na prática



É importante ressaltar que muitos desses portais começaram como "Um sonho que se sonha só." (Raul Seixas) e hoje em dia já são uma realidade existente e que cada vez mais vão crescendo a medida que vão se materializando e mais pessoas se aproximam das ações. Certa vez uma amiga e conselheira me disse que a diferença entre um idealista fantasioso e um visionário é a capacidade de se colocar em prática o sonho que se tem. Tenho me sentido cada vez mais visionário, dentro desta definição.

Coloco aqui o que tenho visto como Portais de União na minha vida. 

São projetos que não tem limites, diante da simplicidade do que se propõe e das possibilidades de despertar cada vez mais essa consciência em atos muito simples.

Como coloquei na apresentação da proposta, não é o ato que vai dizer se você está fortalecendo a união ou não. O que vai abrindo portas para se pensar sobre os portais é você pensar nesse coletivo, nesse NÓS que inclui todxs.

Então vamos lá para os exemplos que podem exemplificar mais essa ideia:

1 - Este blog:

Esse vai ser um dos maiores portais que estarei alimentando na minha vida no momento. Maior por ser o lugar que vai agregar ideias, textos, ações e diálogos com as pessoas, tentando fazer esse trabalho de formiguinha, de chamar mais gente para acreditar que podemos fazer muito mais coisas pela humanidade. O maior desafio desse blog (para além de tentar escrever textos menores...rsrs), será trazer para o concreto que é possível viver esta realidade. Mostrar que quanto mais pessoas acreditarem e tomarem consciência desta proposta, maior será o poder de alcance destas mesmas ideias. Cada vez que alguém entra nesse blog, existe a possibilidade dela se conectar um pouco mais com a união. Com o passar do tempo, quero que mais pessoas que se identifiquem com a proposta possam compartilhar o que andam fazendo nas suas vidas e que trazem essa energia da união.

2 - Ser psicoterapeuta:

Carl Rogers explicita bem o porquê de eu sentir e experienciar a psicoterapia como um grande Portal de União. No seu livro Sobre o Poder Pessoal (2001), ele fala sobre como a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP - abordagem criada por ele), ajuda a refletir, problematizar e ainda oferece possibilidades de atuação para além da psicoterapia individual, atuando diretamente na solução de conflitos sociais, raciais, religiosos, etc. Porém, ele situa essas reflexões mais coletivas, incluindo a importância do processo pessoal de cada um envolvido nestas questões. Ao meu ver, a partir do Rogers, o micro e o macro se relacionam, levando a inúmeras possibilidades de atuação. 

"O Conflito dentro do indivíduo é a mais básica de todas as contendas e tensões. Um dos problemas mais comuns que encontrei como psicoterapeuta foi o da pessoa que se sente em guerra consigo mesma. (...) Como se pode estabelecer pontes entre indivíduos? Entre as forças que criam abismos entre as pessoas estão os conflitos conjugais, rivalidade entre irmãos, ferrenhas competições atléticas ou acadêmicas e diferenças raciais e educacionais"

Poderia inserir várias outras temáticas e demandas que se iniciam na biografia de cada um, que está tão forte "dentro" das pessoas, e que provavelmente interferem em como elas atuam nas suas dimensões políticas, sociais, culturais, etc. 

Este foi o meu percurso. Enquanto eu tinha muita raiva dentro de mim, não conseguia pensar sobre o coletivo sem ser movido por esta raiva. Muitos mergulhos "interiores" e isso me possibilita a não estar tão refém dela ao caminhar em direção à dimensão do coletivo. Falarei mais disso num post específico.

O Rogers fala claramente sobre o fato de que se uma pessoa começa a se compreender mais empaticamente, está mais habilitada a compreender o ponto de vista do outro. Uma pessoa que consegue olhar com franqueza para sua vida - com suas alegrias e dores, festejos e dissabores - e consegue se aceitar, está mais apta a conseguir aceitar o outro nos seus potenciais e limitações. Bem como, uma pessoa que consegue ser mais verdadeira consigo mesma, tende a querer estabelecer esse mesmo tipo de relação com as demais pessoas.

Sei que falando assim, parece simples. Não é. Quando entram as tensões sociais, tudo ganha em complexidade. Mas ainda assim foi a experiência do Rogers enquanto profissional. Tem sido a minha experiência pessoal e também vejo isso nos meus clientes e amigos próximos que começam a fazer mais as pazes consigo mesmos.

Cuidar individualmente das pessoas contribui para tirarmos um pouco mais da energia de sofrimento das relações. Isso pode se espalhar na relação da pessoa com seu companheiro, com a sua família, filhos, relações de trabalho, etc. Estou cuidando dos indivíduos com a intenção de também cuidar do coletivo. Volta a ideia de atuar "individualmente" e pensar como aquele ato pode contribuir com o todo.

3 - Projeto Revelando-Ser (www.revelandoser.org):

O objetivo do projeto é desconstruir o muro do silêncio que existe acerca de pessoas adultas que foram abusadas sexualmente na sua infância e/ou adolescência. Tenho escutado, enquanto terapeuta, muitas situações de sofrimento que as pessoas passam ao longo da vida. Dentre esses sofrimento, o abuso sexual vem se mostrando como tendo um potencial enorme de colocar a pessoa que o vivencia em uma  situação de separação, de guerra consigo mesma.

Uma criança que foi abusada sexualmente por alguém da sua confiança, pode ficar muito confusa. Não saber se ela que foi boba demais, se ela merecia passar por isso, se ela que foi responsável pelo abuso, etc. Imaginem uma criança que foi abusada pelo próprio pai. Imaginem a possível cisão entre amar e odiar essa pessoa. Uma criança que sentiu prazer no abuso sofrido, que de alguma forma "gostou" sem nem saber que se tratava de uma violência. Estas e outras nuances trazem muitos sentimentos contraditórios dentro da pessoa, sendo provável que ela não consiga entender muitos deles, se não tiver um espaço para elaborar essa situação. Poder dar espaço para que essas dores, essas vozes, que muitas vezes foram caladas pelo tempo, possam ser ouvidas novamente.  Assim sendo, semelhante como foi a descrição do tópico acima, ajudar essas pessoas a estarem mais em paz com o seu passado, também liberta ela para ser uma pessoa mais plena no presente. 

Outro aspecto do Portais de União nesse projeto diz respeito à própria temática em si. O abuso sexual remexe com vários julgamentos e valores da maior parte das pessoas. Ainda é um assunto que envolve muitos tabus e isso gera um silêncio na sociedade, gera um isolamento de quem viveu a situação porque ninguém costa de falar sobre isso. Falar sobre essa temática ajuda a tirar as pessoas desses isolamentos.

Por mexer com muitos valores quase todo mundo tem uma opinião formada acerca dos assuntos envolvidos com o abuso sexual. Porém, temos sentindo nesse projeto, que é preciso mais tempo para que as pessoas possam entender a complexidade dessas situações. É preciso um pouco mais de profundidade e delicadeza para se compreender porque uma mãe que soube da sua filha abusada sexualmente pelo seu marido, não fez nada. Ela faz isso "porque é uma monstra insensível". Podem ter tantas coisas envolvidas na história de vida da mãe, na dinâmica do casal, questões culturais, econômicas, etc. Não estou justificando. Apenas afirmo que é possível que seja necessário tentar compreender a partir de uma aproximação com essa mãe. É necessário reconhecer que, apesar de fazer algo que considero muito ruim, ela ainda pode fazer parte daquele meu NÓS, que tem na descrição do blog. Por falar em monstros, será que também é possível olhar para uma pessoa que abusou sexualmente de uma criança e ainda encontrar um lugar de humanidade com ele? Será que, mesmo sendo necessário tomar todas as providências judiciárias para que a pessoa pague pelo crime que cometeu, eu posso ainda reconhecer "um abusador" como alguém que precisa de ajuda e estar em união com ele? São perguntas que esse projeto vem suscitando e temos buscado entrar nessa proposta mais compreensiva para lidar com essas tensões.

4 - Recanto do Ser (recantodoser.com.br):

O Recanto do Ser é um espaço de cuidado integral voltado para a valorização do Ser. Nasceu do sonho dos seus guardiões (sou um deles) em poder ofertar um espaço onde as pessoas pudessem se conectar mais consigo mesmas através de terapias, cursos, palestras, oficinas, etc. Tal como na descrição do porquê que a psicoterapia é considerada por mim como um portal de união, o Recanto tem ajudado às pessoas a se reencontrarem. Porém, devido à natureza mais diversificada dos trabalhos que temos oferecido, temos ido um pouco mais além do que o cuidado individual. Temos tido a experiência de, por exemplo, uma pessoa vir fazer um curso ou uma terapia e gostar tanto do espaço que começa a chamar outros familiares para se cuidarem um pouco mais através das nossas atividades. Famílias começaram a se cuidar e até se conhecerem um pouco melhor pelas passagens que fizeram no Recanto. Através das atividades promovidas em grupo, pessoas se conhecem no espaço, participam de momentos importantes de autoconhecimento, de cuidado umas com as outras e começam a levar para fora do Recanto esse contato, essas relações de amizades, se sentindo mais unidas e menos isoladas e separadas. Outro ponto que acho importante é a passagem de profissionais que estavam se apropriando mais do seu poder de ser terapeuta, professor, palestrante, etc. e que encontraram por aqui uma acolhida e incentivo para seguirem esse caminho, se fortalecendo e ajudando muita gente por onde passam. Sinto que, quanto mais pessoas acessam sua luz e podem colocar ela à serviço da humanidade, mais vamos espalhando focos luminosos pela nossa cidade, ajudando que mais pessoas se conectem com essa onda de cuidado, autoconhecimento, reconexão, etc.

5 - Ser Namastê (https://www.facebook.com/ser.namaste.56): 

A loja Ser Namastê surgiu da minha vontade de compartilhar artigos que eu estava comprando e espalhando na minha casa com mais pessoas. Começou como  um desejo pequeno que depois foi crescendo a cada novo investimento nas compras e suas saídas no  Recanto do Ser. Lembro que a primeira compra dela foi um lote de drusas de ametistas que rapidamente foram vendidas para as pessoas que frequentavam o Recanto. O dinheiro que ficou dessa venda logo foi reinvestido em novas drusas, mas dividido para trazer as esferas de cristais multifacetadas. A medida que ia saindo, novos artigos foram chegando até esse momento em que estamos formalizando cada vez mais a Ser Namastê. 

Por que eu a considero um portal de união? 

Porque a missão da Ser Namastê é trazer para o público uma série de artigos que possam ajudá-lo a se conectar mais com o divino que habita dentro de si e nas demais pessoas. Imersos na rotina do dia-a-dia nos esquecemos desta qualidade e tendemos a se conectar com uma série de energias que estão ao nosso redor e que trazem vibrações muito pesadas às vezes. Acender um incenso quando se está participando de um retiro espiritual é muito mais fácil. Um pouco mais desafiante é: lembrar de escutar um mantra no meio de um engarrafamento; ou ainda estar discutindo com a sua esposa e sentir aquele clima pesado no ar e lembrar de acender um incenso para ajudar numa maior harmonização daquele momento;  se conectar com as cores de uma esfera de cristal multifacetada, quando a vida parece estar em escala de cinza, etc. A idéia não é se alienar, fazer de conta que as coisas não estão acontecendo, e tentar viver em uma bolha ilusória de luz, paz e amor. Porém, o uso de alguns recursos pode ajudar a limpar um pouco mais a sua energia e do ambiente para você poder lidar com os desafios que aparecem. Em alguns momentos somos tão tragados por energias que estão nos rodeando, que só o fato de você lembrar de usar de algum recurso, já ajuda a se desconectar da briga, da raiva, desunião, tristeza, etc. Lembra aquela história curta em que um discípulo perguntava ao mestre qual era o melhor mantra para os momentos de raiva e o mestre responde que, se na hora da raiva ele lembrar de cantar um mantra, qualquer um serviria.

Esta missão da Ser Namastê surge também num momento em que estamos lidando com muitos desafios não somente no âmbito pessoal, mas também, no social, cultural, político, econômico, ambiental, etc. Tal como eu cito em outra postagem:

https://portaisdeuniao.blogspot.com/2018/06/olho-por-olho-e-o-mundo-acabara-cego.html

Pode parecer insignificante, mas - ao se pensar em mudar o estado atual caótico - poderíamos pensar em cuidar, primeiramente, da nossa energia e do ambiente que nos rodeia, para também estar atuando nas esferas mais amplas. É possível que uma discussão sobre política seja diferente, dependendo de como eu já chego para iniciar essa discussão. Mesmo parecendo individualista, sinto que se um número maior de pessoas se conectarem com essa intenção de cuidar de si, é possível que consigamos momentos mais construtivos e criativos junto às outras pessoas. Já pensei muito em como seria um prédio onde todos os moradores tivessem uma ou mais esferas de cristais multifacetadas expostas ao sol. Mesmo que você não queira acreditar que o cristal, em si, cumpra com a função que dizem que ele cumpre - transmutar energia negativa em positiva durante todo o tempo - o simples fato de se ter todos os ambientes preenchidos pelos vários prismas nas cores do arco-íris poderia gerar um efeito benéfico naquele ambiente. Poderíamos pensar em uma vida com um pouco mais de cores e brilhos, dentro desse quadro atual que parece cada vez mais se configura em tempos sombrios.

Pode voltar-se para a reflexão inicial e principal do PU: algum ato parece insignificante porque poucas pessoas ou quase nenhuma fazem. Mas e se todxs fizessem?

Se cada pessoa estivesse mais atenta a como está lidando com a própria energia, poderíamos ter mudanças substanciais na maneira como nos relacionamos uns com os outros. Acredito que seria um ambiente mais propício para se gerar uma união maior.

Tenho falado de projetos maiores e tentando mostrar como eles podem ser considerados Portais de União, porém, é importante frisar que eu acredito que essa consciência pode ser melhor experimentada em "projetos" menores, como falei lá em cima, em atos simples do dia a dia. Dentro dessa perspectiva tudo pode ser um portal de união:

- Postagens em redes sociais;

- A maneira como eu me comporto no trânsito da minha cidade;

- Uma conversa com amigos e familiares

- Repensar meu consumo;

- Repensar meus hábitos alimentares;

- Minha educação com a minha filha;

- Como eu me comporto com a minha equipe de trabalho.

A Lista não tem fim. Lembrar de pensar nesse "NÓS" dentro desses atos do cotidiano pode ser bem cansativo no começo. Porém, com o passar do tempo, vai se tornando mais natural esse reconhecimento. Falar da rotina, me faz querer terminar essa apresentação dos portais lembrando que eu sou humano, demasiado humano. Apesar de eu querer lembrar às outras pessoas dessa energia do PU, eu mesmo esqueço várias vezes dela por dia. Não é tão legal assumir isso para mim mesmo, mas me pego não conseguindo estar em união com a minha família, com minha esposa, com meus colegas de trabalho, com diversos grupos da sociedade, etc. Talvez esteja fazendo todo esse projeto para enraizar na minha vida cada vez mais essa consciência. Apesar de já não estar pronto dentro de mim este estado, sinto que ao me juntar com mais pessoas no concreto, posso ganhar ainda mais força nessa intenção.

E você, quais os portais que você já vive na sua vida e nem se dá conta? Quais os portais possíveis que podemos construir se pararmos para pensar e direcionarmos um pouco do nosso tempo e presença num foco mais coletivo e colaborativo?

Simbora pensar, construir, crescer e compartilhar...

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário