sexta-feira, 24 de abril de 2020

#02| Podcast Revelando-Ser| "Por que falar de abusos sexuais em tempos de pandemia?"




Para escutar o episódio, clica aqui: #02| Por que falar de abusos em tempos de pandemia?

Eu e a Quezia continuamos, mesmo em tempos de quarentena, trazendo nossos olhares sobre os temas do projeto Revelando-Ser.

Neste segundo episódio falamos sobre a necessidade de cuidados com a nossa saúde mental e emocional dentro do contexto de isolamento social que muitas pessoas estão vivendo com a pandemia gerada pelo COVID-19, incluindo uma reflexão acerca das pessoas adultas que foram abusadas sexualmente na infância e adolescência.

Para conhecer ainda mais o projeto, visite o site revelandoser.org, pelo Instagram @revelando_ser ou pelo e-mail revelandoser@gmail.com

Ficha Técnica:

Vozes: Guilherme Assunção e Quezia Cordeiro

Gravação e edição: Marcelo Sena

Realização: Projeto Revelando-Ser

Gravado no dia: 01/04/2020


#01| Podcast Revelando-Ser| "Revelando o que?"




Para escutar o episódio, clica aqui: #01 Revelando o que? 

Como falei no post anterior, encontramos mais uma forma de contribuir com a desconstrução do muro do silêncio acerca das pessoas que foram abusadas sexualmente na infância e adolescência.

Estamos muito contentes e motivados com essa nova parte do nosso projeto, pelo fato de poder alcançar muitas pessoas com as nossas reflexões.

Neste primeiro episódio, eu e a Quezia Cordeiro falamos sobre a história do Revelando-Ser e porque é tão importante trabalhas com esta temática.

Estarei postando toda vez que tivermos novos episódios.

Para conhecer ainda mais o projeto, visite o revelandoser.org, pelo Instagram @revelando_ser ou pelo e-mail revelandoser@gmail.com

Ficha Técnica: 

Vozes: Guilherme Assunção e Quezia Cordeiro

Gravação e edição: Marcelo Sena

Realização: Projeto Revelando-Ser

Gravado no dia: 09/03/2020


sexta-feira, 10 de abril de 2020

Desconstruindo ainda mais o muro do silêncio: nosso podcast!


Tenho falado em muitos momentos sobre o quanto é grande o muro do silêncio que envolve as pessoas adultas que foram abusadas sexualmente na infância e adolescência. O objetivo principal do projeto Revelando-Ser é contribuir para a desconstrução desse muro. Já realizamos várias atividades e ainda temos muitas coisas sendo projetadas para poder efetivar esse objetivo.

Uma das formas que encontramos para alcançar um número maior de pessoas foi criando um podcast do projeto Revelando-Ser. Temos tido um retorno muito significativo de pessoas que participaram de momentos de Rodas de Conversa presenciais com a equipe do Revelando-Ser. Estas pessoas dizem que, apesar do assunto ser difícil, delicado e denso, à medida que vamos trazendo as nossas falas, elas podem adentrar nessa temática de maneira mais leve e menos angustiante.

Logicamente que não podemos prometer às pessoas que, ao nos escutar, todas vão se sentir melhores com suas dores. Tanto que sempre estamos começando com um alerta de gatilho no começo de cada episódio. Lembramos às pessoas que elas nos escutem num momento em que estejam se sentindo com possibilidades de cuidar das coisas que podem emergir ao entrar em contato com a temática. Reconhecemos esse cuidado como muito importante por sabermos que, em muitos casos, esse é um assunto dos mais difíceis de serem reconhecidos e falados sobre.

Algumas pessoas já me perguntaram se acessar esses conteúdos só é importante para alguma pessoa que já passou pela situação. Eu sempre digo que não. Por mais que você não tenha vivenciado essa experiência, é possível que pessoas que são queridas por você tenham passado. É muito mais comum do que a sociedade se permite admitir. Então, ao se conhecer um pouco mais sobre a temática, podemos criar uma disponibilidade maior para que as pessoas que passaram por isso não tenham que ficar tão isoladas. Podemos tentar ser mais acolhedores e sensíveis, desenvolver empatia por pessoas que passaram por estas situações e ajuda-las a saírem dos seus silêncios. Falo um pouco mais sobre isso nessa postagem: Falar pode mudar tudo... E o muro do Silêncio?

Então é isso. Estamos muito felizes de criar outro espaço importante para ajudar nessa desconstrução.

Estamos disponíveis nas principais plataformas de podcast, onde você pode ouvir gratuitamente aos nossos conteúdos. No nosso site você encontrará uma lista de links que irão lhe redirecionar para os sites onde os podcasts podem ser escutados (tais como Spotify, Apple Podcast, Google Podcast, etc.). Alguns desses sites também tem aplicativos que você até já pode utilizar no seu celular. Ao fazer a assinatura do nosso podcast, você recebe notificações de quando lançarmos novos episódios para sempre estar nos acompanhando.
(Podcast Revelando-Ser)

Quem puder escutar, divulgar e compartilhar para  que os nossos conteúdos possam chegar em quem está precisando, nós agradecemos muito!

Que possamos aproveitar esse momento tão turbulento e desafiante para encontrar novas formas de cuidarmos mais uns dos outros. 

O Segredo e o Abuso sexual (Por Luana Melo)



Trago para cara uma postagem feita por Luana Melo, assistente social do Revelando-Ser, para pensarmos um pouco mais sobre o silêncio que marca tanto as pessoas que foram abusadas sexualmente na infância e adolescência.


Como surge o Segredo em torno do Abuso Sexual?

Por que esse segredo, muitas vezes, segue até a vida adulta da pessoa que vivenciou o Abuso Sexual?

Percebemos o segredo como um aspecto que comumente envolve o Abuso Sexual por diversos motivos, embora não possamos generalizar.
A criança ou adolescente consegue perceber, mesmo que não racionalmente, a depender também de sua idade, que a situação do Abuso Sexual é inapropriada mesmo que o/a autor/a não peça um segredo diretamente.

Então, vamos pensar numa situação:

Uma pessoa próxima do convívio e confiança por quem uma criança tem grande afeto, que se aproxima dela, sem usar de força física ou ameaças, nem a machuca fisicamente, com o intuito de obter prazer sexual. Essa criança é gradativamente envolvida na situação que não consegue perceber o que é carinho terno e o que é uma estimulação sexual para qual ela não tem compreensão do que exatamente se trata, nem de suas consequências.




A criança pode, inclusive, sentir prazer e buscar vivenciar essa experiência outras vezes.
Ao mesmo tempo que é prazeroso, a criança pode ter certo estranhamento, uma vez que os episódios não ocorrem na frente de outras pessoas, outras pessoas de referência não agem com ela dessa forma, também há certo pudor da sociedade sobre expor as partes íntimas ou tocá-las...

Enfim, uma série de aspectos sutis e subjetivos de cada caso que a criança sente um estranhamento, mas que pode haver um misto de sentimentos como vergonha ao se dar conta de que pode ser algo errado, medo de ser presa ou que alguém seja preso, culpa por ter sentido tudo aquilo ou não ter contado a alguém, dentre tantos outros.
Os sentimentos de vergonha, medo e culpa são suficientes para a criança manter em segredo a situação abusiva vivenciada. Ela pode se esquivar da continuidade dos abusos e se manter com esses sentimentos.

Esse segredo pode parecer tão sujo, que ela pode levá-lo à sua vida adulta, sentir inúmeras consequências dessa experiência precoce, sabendo racionalmente que foi a vítima na situação, mas ter dentro dela um sentimento da criança “cristalizado” de que não deve falar sobre isso.

Pode haver um tumulto imenso de sentimentos nas pessoas que vivenciaram o abuso sexual na infância ou adolescência e guardar esses sentimentos não ajuda a melhorar essa confusão.
O processo psicoterapêutico ajuda a se aproximar de cada um desses sentimentos e compreendê-los, tanto na ótica da criança que o vivenciou quanto da pessoa que hoje é adulta e pode se cuidar e defender. Não é um processo simples, é profundo e exige cuidado e delicadeza.

Acreditamos que é possível curar essa ferida com muito trabalho e envolvimento, respeitando o tempo e o movimento de cada pessoa em lidar com isso.

Precisamos falar mais e mais sobre essa temática para que mais pessoas possam se perceber com chance de se cuidar, de cuidar de outras pessoas e de prevenir que mais crianças e adolescentes vivenciem o Abuso Sexual.

Vamos falar mais sobre isso?

 Por Luana Melo

Falar pode mudar tudo... E o Muro do Silêncio?


Atualizado em 11.04.2020

O texto abaixo já estava sendo escrito há um tempo, mas só ontem que consegui ajeitá-lo para colocar aqui no blog. Ainda não tinha começado a divulgação dele por ainda estarmos divulgando o Podcast Revelando-Ser. Mas, depois do Marcelo Adnet ter dado uma entrevista relatando que foi abusado sexualmente na infância, e surgirem algumas reações negativas por pessoas nas redes sociais, tive vontade de compartilhar logo.

Ao Marcelo Adnet:
Muito obrigado pela coragem de se expor e correr esse risco. Sabemos, por tudo que estamos vivendo no nosso projeto, o quanto isso não é simples. Esse tema ser tocado por uma pessoa como você é uma possibilidade de ir desconstruindo esse muro do silêncio que existe acerca dessa temática. Já temos preparado uma fala específica do projeto sobre como também é difícil para os homens falarem dos seus abusos sexuais. Seu relato só nos motivou ainda mais de partilhar isso com todas as pessoas.
Receba nosso apoio!

Falar pode mudar tudo... E o Muro do Silêncio?

Eu estava novamente assistindo o clipe feito pelo Carlinhos Brown no ano passado, na época do setembro amarelo. Como atendo a muitas pessoas que estão com ideações suicidas, aquele clipe mexe bastante comigo. Porém, continuei sentindo um incômodo a partir dele, tal como eu escrevi no último post https://portaisdeuniao.blogspot.com/2019/10/falar-pode-mudar-tudo-um-complemento.html.

Continuarei com a intenção que eu tive ainda no ano passado, de trazer a mesma reflexão do post anterior para a temática central do projeto Revelando-Ser - https://www.revelandoser.org/

Faço esse post agora também porque estamos chegando com algumas novidades nesse primeiro semestre com a intenção de retomar algumas atividades do referido projeto, iniciar outras e, ao acreditar que vamos conseguir chegar a um número maior de pessoas, sinto que essa reflexão aqui se faz necessária.

Acho muito oportuno relacionar as duas temáticas, suicídio e abuso sexual, neste post. Não somente porque acho que o clipe também descreve como as pessoas adultas que foram abusadas sexualmente na infância e adolescência se sentem:

“Um furacão silencioso
Um redemoinho mental
Uma tormenta diária
Uma dor abissal”

Mas, sim, porque é possível perceber como estas duas temáticas se entrelaçam de um jeito profundo e perturbador em muitas pessoas. Venho atendendo no meu consultório várias destas pessoas adultas e o tema do suicídio é recorrente em muitas delas. Algumas, inclusive, têm no seu histórico tentativas concretas de tirar a própria vida em momentos anteriores.

Lembro agora que em setembro do ano passado conversei com uma psicóloga de outro estado que trabalhava muito com a temática do suicídio. Conversamos sobre como é difícil trazer esse assunto para se conversar com profissionais e a sociedade de modo geral. Falei para ela que eu sentia a mesma dificuldade em querer trazer mais sobre o abuso sexual e ela me trouxe que, de 10 mulheres que ela atendia com ideações suicidas, pelos menos umas 07 traziam algum tipo de abuso sexual na sua história. Confesso que eu não fiquei muito surpreso. No entanto, ao mesmo tempo, fiquei refletindo sobre o fato de o tema do suicídio, apesar de todas as dificuldades, ainda está tendo mais visibilidade atualmente: seja na academia, através de produções, pós graduações e cursos específicos;  seja na criação institutos e serviços, tais como o CVV; ou ainda na criação de uma agenda política, tal como o setembro amarelo (mesmo que eu tenha alguma críticas em relação a este momento).

Quando eu penso na temática das pessoas adultas que foram abusadas sexualmente não encontro essa visibilidade citada acima.

Essa conversa com a profissional me remeteu a criar uma metáfora: 

me pareceu, por um instante, que estamos podendo falar mais claramente sobre o fato de as pessoas estarem, por exemplo, com uma febre. Mas a febre é um desdobramento de alguma outra coisa que está acontecendo dentro do organismo destas pessoas. Então precisamos também conversar sobre as possíveis causas dessa febre para se pensar em como lidar melhor com a febre em si.

É importante deixar claro, caso não tenha ficado ainda, que não se trata de “como é ruim estarmos dando visibilidade ao suicídio”. Mas, sim, de “vamos nos aprofundar neste tema e, talvez, trazer à tona outros conteúdos que também são importantes e que parecem ser ainda mais tabus dentro da sociedade”.

E aí vem a reflexão sobre o clipe. Ao falar sobre o suicídio eu achei necessário complementar que nem todas as pessoas estão preparadas e prontas para ouvirem um sofrimento que é complexo, delicado, profundo, etc. Quando se trata do abuso sexual também é possível fazer o mesmo questionamento. Muitas pessoas adultas, ao tentarem sair dos seus silêncios para falar dos abusos sexuais que passaram na sua infância e adolescência, podem ter como respostas dos seus interlocutores várias frases e posturas que estão longe de ajudar a minimizar o sofrimento daquelas pessoas abusadas.

“Por que você não falou na época?”
“Você tem certeza que foi assim que aconteceu?”
“Você não deve ter falado porque gostava!”
“Para que falar disso agora? Já faz tanto tempo...”
“Agora é fácil: falar de alguém que já morreu. Ele (a) não pode se defender!”
“Se você falar isso agora, muita gente da família vai sofrer. É melhor não falar pra ninguém”

Eu teria mais exemplos para colocar. A partir deles dá pra ver como a situação cantada no clipe não está disponível para muitas pessoas que ouvem os relatos dos abusos sexuais:

“Eu te entendo, me coloco em seu lugar
Eu te vejo e posso te escutar
É difícil, e pra quem não é?
Mas te garanto, é pior calar”

Não quero dizer com tudo isso que as pessoas que foram abusadas sexualmente têm de permanecer nos seus silêncios. Só atento para o fato de que, dentro dessa temática, não basta apenas convidar as pessoas abusadas para falar para qualquer pessoa. Temos que também ter em mente que muitos dos ouvintes poderão ter comportamentos que não facilitarão aquela abertura e as pessoas podem se sentir pior do que antes de tentarem romper o silêncio. Porém, isso não significa que o silêncio tem que ser a única saída para aquela demanda. Buscar ajuda profissional é um movimento importante na construção de outro desfecho para esse silêncio.

Infelizmente não temos um serviço como o CVV em relação ao suicídio, onde os profissionais tenham todo um aprofundamento na temática para poderem ter um olhar mais amplo e profundo sobre como lidar com as pessoas adultas que foram abusadas sexualmente. Mas, ainda, assim ter um momento de escuta e acolhimento com um profissional de confiança pode significar um início da saída dessa prisão. 


Espero que possamos criar, a partir das nossas reflexões, um espaço social mais acolhedor, com menos julgamentos, para que as pessoas possam minimizar os impactos gerados pelos seus abusos sexuais. 
#saberescutarpodemudartudo

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Saindo do Silêncio


O Projeto Revelando-Ser já vem sendo gestado há cerca de 04 anos.
Como os profissionais envolvidos no projeto sempre estão se dedicando a inúmeras outras atividades e, também, por outros percalços da vida, ainda não conseguimos oferecer para o público em geral, tudo que já pensamos e projetamos.
Mas comemoramos cada passo que damos a mais na construção desse projeto.
Compartilho agora um vídeo que eu fiz para falar dessa saída do silêncio que está no nosso canal do youtube.
Em breve vou ficar compartilhando aqui no blog as várias comunicações que estaremos fazendo sobre o projeto nesse período de quarentena.
Espero que cada iniciativa dessa ajude nessa desconstrução do muro do silêncio que existe em volta das pessoas adultas que foram abusadas sexualmente na infância e adolescência.
Quem quiser saber mais sobre nosso trabalho se inscreve no nosso canal do youtube.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

O paradoxo de quem precisa correr tanto para desacelerar

Abrindo um Preambulo.

Antes de tudo, eu gostaria de indicar que, ao meu ver, esse post não se enquadra a toda e qualquer realidade social do momento atual. Sinto que estarei falando do meu lugar na sociedade e dos clientes que fazem psicoterapia comigo. Tenho clareza que é fato que, para um número grande de pessoas em situações de maior vulnerabilidade social, muitas coisas que estou falando aqui nessa postagem fazem pouco ou nenhum sentido. Tem bons textos falando sobre essas diferenças que ficam ainda mais evidenciadas em tempos de crise como agora. Lembro da frase que bem define isso:

Não, não estamos todos no mesmo barco. Quando muito, estamos no mesmo mar, mas uns em iates e outros agarrados a um tronco" (meme anônimo)

Mas ainda assim, gostaria de compartilhar um pouco do que tenho pensado sobre coisas que uma parte da sociedade está vivendo. Espero que contribua para que cuidemos mais uns dos outros, incluindo aquelas pessoas que estejam vivendo algo diferente.

Fechando o preambulo.

Será que desaceleramos?

Neste período de pandemia continuo realizando os atendimentos de psicoterapia com os meus clientes. Porém, por reconhecer a importância do isolamento social, todos os atendimentos estão sendo on line, para poder integrar a importância da continuidade do cuidado com a saúde mental das pessoas e as orientações recomendadas pelos órgãos que, de fato, estão comprometidos em cuidar com seriedade deste momento que já está bem caótico.

Ao acompanhar os meus clientes, bem como por também estar vivenciando essa “quarentena”, tenho visto como toda a vida ficou meio confusa, sem um norte claro, sem que as pessoas saibam muito bem como lidar com esse isolamento repentino. A dimensão do tempo ganhou uma importância grande nesses últimos dias. O que estive, estou e estarei fazendo com o meu tempo a partir de toda essa situação? Particularmente, não estou com meu tempo mais livre. Ademais, parece que tenho menos tempo agora do que tinha antes da pandemia.

Nesse sentido, uma reflexão me chamou a atenção por esses dias que dizia respeito à oportunidade de desacelerarmos as nossas vidas, juntamente com as nossas relações, para buscarmos nos entender um pouco mais nessa loucura que se tornou a vida.

Ressignificar as relações com tudo: vida, família, trabalho, saúde, consumo, meio ambiente, cuidados com a casa, enfim, prioridades. Achei essa proposta muito importante, pensando no quanto tenho recebido pessoas no meu consultório que sofrem com essa “normose”, vivendo essa vida corrida, no modo automático, a partir de hábitos, costumes e posturas altamente adoecedoras para si e para os outros, sem questionarem se o que se considera normal atualmente é o melhor para a vida no planeta. Lembra a frase que tem circulado (não consegui identificar ao certo a autoria):

"Não podemos voltar ao normal porque o normal era exatamente o problema. Precisamos voltar melhores. Menos egoístas. Mais solidários. Mais humanos".

Mas daí comecei a perceber o movimento de muitos dos meus clientes, a partir de tantos incentivos feitos pela internet, de quererem aproveitar tudo que eles podiam fazer na quarentena e que não cabia na rotina do cotidiano. A partir do estímulo de aproveitar “o tempo livre” para rever a sua vida, muitas pessoas resolveram: faxinar toda a sua casa e/ou apartamento; fazer todos os exercícios físicos;  ler todos os livros atrasados que se tinha em casa – sem esquecer de ler também vários livros que foram disponibilizados e socializados na quarentena; fazer todos os cursos gratuitos que apareceram; assistir todas as lives que tantas pessoas estão fazendo – bem como todos os filmes e seriados; desenvolver seus dotes culinários; criar uma rotina de jogos e ocupações para as crianças, etc. Isso sem contar com as atividades diárias e necessárias para se cuidar da casa e das crianças, sem a comum terceirização que é feita em dias “normais”.


Logicamente que eu não estou querendo dizer que cada coisas dessas não possa ser, em si, muito bom para que possamos fazer algo de útil e proveitoso durante a quarentena. O que me preocupa é a manutenção de um tipo de funcionamento que só muda de conteúdos, mas que permanece com o mesmo imperativo de ter que correr tanto para dar conta da vida novamente. Então não acho que o “problema” esteja na qualidade das coisas estão sendo feitas, mas sim, na sobrecarga que se acumula e faz com que a vida pareça ficar com muito mais autonomia e bem-estar, mas, que no fundo, reproduz uma mesma lógica robotizada e desconectada se não se tiver cuidados. O fato de termos que nos isolar não garante que a velocidade diminua. Muitas pessoas aceleraram e muito dentro dos limites que a quarentena impõe.

Tenho suspeitado que se ocupar muito neste momento também é uma forma de não entrar em contato com tantos sofrimentos, medos, incertezas, inseguranças, etc. Não quero dizer que toda fuga tem que ser considerada negativa. Acho que se todo mundo parar para pensar no que já está acontecendo e no que ainda estar por vir, muitos não conseguiriam continuar fazendo as coisas diárias que são necessárias para continuar tocando a vida em tempos sombrios. Mas penso que, se a quarentena durar mais tempo do que gostaríamos, esse modo de funcionamento, de evitar o contato com as nossas próprias emoções, também trará suas consequências na saúde mental e emocional de todas as pessoas.

Foi necessário se preocupar com coisas muito práticas e concretas para lidar com esse início de pandemia. A vida de muitos e muitas estavam e ainda estão correndo um sério risco. Esses cuidados ainda precisam ser mantidos. Mas, com a continuidade da quarentena, precisamos cuidar da nossa saúde mental para podermos passar por essa quarentena da melhor forma possível. Vi alguns textos orientando as pessoas a fazerem coisas para não se angustiarem nesse período ou para não ficarem entediadas durante a quarentena. Mas a angústia faz parte desse processo. Ela tem que ser incluída para repensarmos de verdade sobre tudo que está acontecendo nas várias dimensões da vida. Eu desejo que possamos cuidar mais do nosso emocional, incluindo todas as tensões que isso implica, ao invés de ter que seguir as receitas pré-fabricadas de como ter uma quarentena top, com alta performance, ou super espiritualizada, descontextualizando-se para não sofrer.

Muitos projetos foram criados para dar suporte psicológico voluntário e gratuito durante esse tempo de pandemia. Busquem esses cuidados, caso não tenham recursos ou não saibam a quem recorrer nesse momento.

Para quem estiver com condições financeiras, a psicoterapia on line também poder ser um recurso muito importante nestes momentos. Não para lidar, somente, com os efeitos emocionais negativos dessa pandemia, mas, sim, como um cuidado que pode se estender para além desse momento mais emergencial.

Que possamos cuidar mais da nossa saúde mental e emocional no meio de tudo isso que está acontecendo...

Se você estiver precisando de ajuda profissional, pode entrar em contato comigo através do meu whatsapp: (81) 99840.8940