Trago para cara uma postagem feita por Luana Melo, assistente social do Revelando-Ser, para pensarmos um pouco mais sobre o silêncio que marca tanto as pessoas que foram abusadas sexualmente na infância e adolescência.
Como surge o Segredo em torno do Abuso Sexual?
Por que esse segredo, muitas vezes, segue até a vida adulta
da pessoa que vivenciou o Abuso Sexual?
Percebemos o segredo como um aspecto que comumente envolve o
Abuso Sexual por diversos motivos, embora não possamos generalizar.
A criança ou adolescente consegue perceber, mesmo que não
racionalmente, a depender também de sua idade, que a situação do Abuso Sexual é
inapropriada mesmo que o/a autor/a não peça um segredo diretamente.
Então, vamos pensar numa situação:
Uma pessoa próxima do convívio e confiança por quem uma
criança tem grande afeto, que se aproxima dela, sem usar de força física ou
ameaças, nem a machuca fisicamente, com o intuito de obter prazer sexual. Essa
criança é gradativamente envolvida na situação que não consegue perceber o que
é carinho terno e o que é uma estimulação sexual para qual ela não tem
compreensão do que exatamente se trata, nem de suas consequências.
A criança pode, inclusive, sentir prazer e buscar vivenciar
essa experiência outras vezes.
Ao mesmo tempo que é prazeroso, a criança pode ter certo
estranhamento, uma vez que os episódios não ocorrem na frente de outras
pessoas, outras pessoas de referência não agem com ela dessa forma, também há
certo pudor da sociedade sobre expor as partes íntimas ou tocá-las...
Enfim, uma série de aspectos sutis e subjetivos de cada caso
que a criança sente um estranhamento, mas que pode haver um misto de
sentimentos como vergonha ao se dar conta de que pode ser algo errado, medo de
ser presa ou que alguém seja preso, culpa por ter sentido tudo aquilo ou não
ter contado a alguém, dentre tantos outros.
Os sentimentos de vergonha, medo e culpa são suficientes
para a criança manter em segredo a situação abusiva vivenciada. Ela pode se
esquivar da continuidade dos abusos e se manter com esses sentimentos.
Esse segredo pode parecer tão sujo, que ela pode levá-lo à
sua vida adulta, sentir inúmeras consequências dessa experiência precoce,
sabendo racionalmente que foi a vítima na situação, mas ter dentro dela um
sentimento da criança “cristalizado” de que não deve falar sobre isso.
Pode haver um tumulto imenso de sentimentos nas pessoas que
vivenciaram o abuso sexual na infância ou adolescência e guardar esses
sentimentos não ajuda a melhorar essa confusão.
O processo psicoterapêutico ajuda a se aproximar de cada um
desses sentimentos e compreendê-los, tanto na ótica da criança que o vivenciou
quanto da pessoa que hoje é adulta e pode se cuidar e defender. Não é um
processo simples, é profundo e exige cuidado e delicadeza.
Acreditamos que é possível curar essa ferida com muito
trabalho e envolvimento, respeitando o tempo e o movimento de cada pessoa em
lidar com isso.
Precisamos falar mais e mais sobre essa temática para que
mais pessoas possam se perceber com chance de se cuidar, de cuidar de outras
pessoas e de prevenir que mais crianças e adolescentes vivenciem o Abuso
Sexual.
Vamos falar mais sobre isso?
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