O que é o Portais de União?

"Cada vez mais percebo que a descoberta de uma nova política para nossa cultura depende da vivência, experiência e descoberta de uma 'nova política' dentro de mim - comunicando-me tanto com todas as partes de meu próprio ser que, a partir da unidade que isso produz dentro de mim, passarei a viver de maneira cada vez mais transparente de modo que desmascare as instituições e costumes de nossa cultura que obstruem o caminho da unidade - dentro de nós mesmos, entre nós, e entre nós e a terra" (Carl Rogers, Sobre o Poder Pessoal)









O Portais de União é uma ideia, uma consciência, uma postura diante da vida, uma intenção que se desdobra em um projeto que busca criar ações que materializem essa consciência no cotidiano do mundo concreto. A ideia principal do PU é se atentar para o fato de que não existe nada separado no nosso planeta, de que a sensação de separação, apesar de ser tão reforçada em todos os lugares para onde se olha, não passa de uma ilusão.

Lembra uma foto postada no Facebook há meses, onde se tinha a foto do planeta Terra com os dizeres mais ou menos assim: “Quando você pensar em jogar alguma coisa fora, lembre-se que não existe fora!” O PU traz essa consciência para o centro da reflexão objetivando que, a partir desse reconhecimento em vários âmbitos da vida, seja possível pensar em soluções criativas que tragam equilíbrio para tantas coisas que estão disfuncionais na nossa sociedade atual.

A partir do momento em que se entende que tudo tem a ver com tudo, pode-se pensar de maneira diferente sobre a responsabilidade de cada pessoa em problematizar e rever o que se anda fazendo no mundo e se isso tem gerado mais equilíbrio ou desequilíbrio para o planeta como um todo. Isso traz outro senso de responsabilidade sobre quem tem que fazer alguma coisa para melhorar o mundo em que vivemos.

O PU surge também em um momento de certa crise em referências políticas, na credibilidade e na própria confiança de que as pessoas que estão ocupando os cargos públicos estão, de fato, com interesse em buscar soluções para os desequilíbrios que existem na sociedade.

Esse é um questionamento antigo, tal como se pensar na seca do sertão nordestino, ou como pensar na falta de investimento na educação - situações que não são resolvidas por interesses políticos claros. Porém, o que parece é que, diante de se perceber que os políticos - os quais deveriam ser escolhidos para representar o interesse da população - não estão cumprindo com aquilo que se almeja, o caminho para as pessoas que estão interessadas em construir um mundo melhor é a luta macropolítica, no sentido de se mobilizar coletivamente para exigir mudanças, propor novas bandeiras, novos movimentos partidários, etc. Muita coisa foi conseguida através desses movimentos, muitos direitos foram conquistados. Muitas coisas foram modificadas a partir da construção de novas leis, novos serviços, novos programas, etc. Estas lutas merecem ser reconhecidas, honradas e fortalecidas.

Porém, diante da complexidade da vida em sociedade atualmente com essa crise de referências, surge a possibilidade, ou poderia-se até dizer necessidade, de se encontrar outras alternativas de se buscar por uma melhoria social e coletiva que não se restrinja e se esgote dentro da esfera macropolítica.

O PU vem trazer o seguinte questionamento: se cada pessoa, que se sente tocado e identificado com uma sociedade que seja mais equilibrada entre todas as pessoas, estivesse pensando, formas de promoverem mudanças, mesmo que o raio de ação destas fosse pequeno, qual seria o efeito disso nesta sociedade de uma forma mais geral? É possível remeter ao vídeo da animação postado acima. Parece que se uma pessoa pensa em fazer diferente do que é comum na nossa sociedade, não se teria um efeito muito grande. Mas, e se a maior parte das pessoas fizer. Sei que esse discurso parece idealista demais, ou até piegas, romântico e totalmente ingênuo. Tenho referências teóricas que me inspiram em pensar de forma utópica, sem que isso tenha que ser, necessariamente, algo a ser desmerecido. Tenho pensado e sentido que, de fato, fomos ensinados a não reconhecer o poder que temos, enquanto indivíduos também, para mudar o mundo. Temos vivido de maneira tão fragmentada que não vemos esse poder. Tenho falado para algumas pessoas próximas que, ao que me parece, justificamos que o mundo não muda por faltar dinheiro, tempo, pessoas, instituições suficientes com esse interesse. Tenho pensado que, se tem tanta gente que gostaria que as coisas mudassem, porque só pensar que a luta tem que se dar na esfera macropolítica.

Antes que se pense que isso é puro idealismo, trago uma visão que reli recentemente, uma entrevista que traz o quanto esse idealismo não é só teórico e sem sentido: https://www.geledes.org.br/entrevista-com-suely-rolnik-a-hora-da-micropolitica/

Quem já assistiu ou tiver vontade de assistir o filme Vida de Inseto, poderá ver que, ao final, todo o formigueiro teve uma mudança significativa, mas, que ela iniciou com uma formiga pensando e fazendo diferente.

E o que seria um Portal de União?
Toda ação que seja feita tendo como base essa consciência da União, de que estamos interligados em um todo que não se separa, agindo a partir desse reconhecimento. Cada ação que cria uma resistência a este contexto cada vez mais individualista, propondo-se a pensar em um Nós, a incluir as outras pessoas nas suas ações. Possibilidades de se construir desde projetos maiores, até ações "bem pequenas", trabalhos, hábitos e costumes do dia-a-dia que visem lembrar a pessoa dessa consciência e trazer equilíbrio para todxs. 

É importante lembrar que mais importante do que se faz, é o "como se faz". Podemos pensar que cada ação que fazemos pode ter uma energia de separar mais ou de unir mais. Eu posso estar distribuindo sopa na rua com muitas pessoas e, dentro de mim, estar em profunda separação com aqueles que estou ajudando; como também posso fazer um ato "totalmente individual", como diminuir meu consumo de plástico, e fazer isso de um lugar de pensar numa totalidade. Eu experimentei, nessa semana onde estou bem envolvido com estas questões, falar com uma pessoa sobre união e ficando extremamente impaciente e até grosseiro com ela por sentir que ela estava sendo individualista nas suas falas. Ou seja, essa onda de separação poder pegar a gente nos mínimos detalhes, incluindo nos "momentos mais nobres".
Vamos, juntos, reconhecer a força que temos e pensar em formas criativas para mudar o mundo a partir das nossas ações cotidianas?
Namastê.

Um comentário:

  1. Que eu possa cada vez mais te acompanhar... como aprendo contigo... Gratidão.

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