"Ética é incluir o maior número de pessoas naquilo que chamamos de nós." Sejam bem vindxs a um espaço de trocas, conversas, reflexões, construção e possibilidades de criar Portais de União. União entre todos os seres.
domingo, 13 de dezembro de 2020
Você escuta o que canta?
sexta-feira, 20 de novembro de 2020
Racismo: o espelho onde muitas pessoas não querem se ver
A primeira vez em que eu me descobri racista foi perto dos meus 10 anos...
(Abrindo um parêntese meio longo:
Achei essa frase meio estranha quando digitei. Como assim, a primeira vez?! Para
mim só se descobria algo desse tipo uma vez só! Pois é, a vida me ensina
diariamente que não. De lá para cá venho buscando desconstruir o racismo dentro
de mim. Porém, quando eu já me sinto tendo trabalhado essa temática “o
suficiente”, vem alguma outra situação do cotidiano me mostrando o quanto ainda
estou longe de não ser afetado por nossa estrutura social profundamente
racista. Então já me descobri racista inúmeras vezes, em épocas diferentes. Lembra como
eu me sinto em relação a não querer ser machista. Mas isso é outro papo!)
Voltando.
Quando eu tinha 10 anos, lembro
do meu pai chegando com uma fita do primeiro disco do Gabriel, O pensador e um
dicionário do lado para que eu pudesse tentar entender aquelas letras mais
adultas com um pouco mais de propriedade. O que eu não entendia, mesmo com o
dicionário, ele me explicava do jeito dele.
Eu localizo nessa passagem uma certa
iniciação a problematizar o mundo, a questionar as coisas que eu tinha como
certezas.
Nesse disco tinha uma música que
se chamava Lavagem Cerebral. Lembro que não entendi muitas coisas quando
escutei na primeira vez, mas, à medida que eu ia compreendendo, eu tomei um
susto. Frases do tipo “O racismo é uma burrice, mas o mais burro não é o
racista. É o que pensa que o racismo não existe. O pior cego é o que não quer
ver que o racismo está dentro de você!” soaram como um tapa na minha cara, me
causando incômodo e me obrigando a reconhecer o quanto eu fazia parte dessa
dinâmica da sociedade.
De lá para cá, passando por tantas experiências,
inclusive me tornando psicólogo e trabalhando muito com problemáticas sociais, ainda
assim me frustro por sentir coisas que eu não queria sentir.
Dando um exemplo prático: em 2009 eu fui para um evento da Abordagem Centrada na Pessoa em Florianópolis e, no final do evento, descemos até o Rio Grande do Sul de ônibus para encontrar uns amigos e depois retornar para Recife. Quando chegamos em Porto Alegre, por volta de umas 06hs, saímos andando pelas ruas próximas da rodoviária até encontrarmos um lugar para tomar um café da manhã. Estávamos todos de malas grandes e quando encontramos nossos amigos que moravam lá, uma pessoa comentou que era arriscado andar naquelas ruas naquele horário. A pessoa comentou que, geralmente, têm muitos ladrões naquelas bandas. Eu me senti meio estranho e disse que não tinha visto ninguém que eu achasse perigoso na nossa peregrinação. Um pouco depois de falar isso eu me dei conta que a representação mental de quem eu acho perigoso era de um homem negro. Eu, de fato, não sei o quanto tinha ou não pessoas que poderiam nos assaltar naquele dia, mas me doeu reconhecer que eu estava me sentindo seguro porque não vi nenhum negro. Por uma questão específica daquela localidade - bem como não se deve fazer essa generalização em lugar nenhum - é muito provável que “o ladrão” de lá não seja negro. Ou seja, eu poderia estar correndo riscos e nem me localizei diante disso por ter dentro de mim uma naturalização de quem é o “ladrão” na nossa sociedade. Naquele dia eu me descobri novamente racista!
Não me orgulho disso, não alimento
isso nos meus pensamentos conscientes, não olho para uma pessoa negra querendo acha-la
inferior ou mais perigosa do que outras, etc. Mas tenho que reconhecer que esse
racismo está entranhado dentro de mim e que é melhor que eu reconheça isso do
que fazer de conta que não existe por querer ser politicamente correto, ou por
não querer me reconhecer menos do que eu gostaria de ser.
Desejo sinceramente que paremos
de tapar o sol com a peneira e possamos olhar de frente para as nossas chagas
sociais de modo a criar um ambiente muito mais respeitoso, cuidadoso, inclusivo
e saudável para todas as pessoas, sem deixar de levar em consideração suas singularidades.
terça-feira, 6 de outubro de 2020
Minha vida sem sol
Hoje eu acordei com dor de garganta.
Assim que a percebi tive um sentimento estranho. Uma mistura de surpresa com lembranças antigas, pois é muito raro eu ter uma crise hoje em dia, mas a amigdalite já foi uma companheira muito mais próxima, cotidiana, debilitante e incômoda durante a infância e boa parte da adolescência.
Na adolescência, já fazendo psicoterapia, fui aos poucos entendendo o fundo emocional que estava por trás daquelas crises e, junto com outras práticas integrativas, consegui encontrar um lugar menos sofrido e espaçado entre as crises.
Mas por que estou falando das minhas dores de garganta? Porque elas me conectam diretamente com uma parte da minha vida onde eu era totalmente regido pelas minhas dores. Minha vida sem sol.
Desde muito cedo.
Talvez as pessoas que me veem hoje em dia e não são tão próximas de mim, não tenham como imaginar caminhos por onde eu passei. Talvez as pessoas que me conhecem desde a infância ou adolescência, podem lembrar de vários comportamentos estranhos, agressivos, autodestrutivos que eu tinha. Mas é muito provável que também não façam a mínima ideia de tantas coisas que estavam por trás daqueles comportamentos. O fato é que, desde muito cedo, antes dos meus 10 anos de idade, eu já me sentia muito ruim comigo mesmo, com muitas angústias, muito sozinho e com vontade de não mais existir mais.
Um ponto importante, e aqui eu identifico uma virada na minha vida, foi iniciar a psicoterapia quando eu tinha 13 anos. Encontrar um espaço de fala foi muito importante para colocar para fora tantas dores que eu carregava e não me sentir mais tão isolado.Não foi uma “solução” mágica. Durante anos tive muitos momentos onde as coisas pareciam não ter sentido algum. Mas, gradativamente essa densidade foi suavizando e, cada novo passo fortalecia a confiança no processo de me encontrar comigo mesmo e fazer dessa vida algo significativo para mim mesmo.
Porém, recentemente, recebi um convite para olhar novamente para o meu passado e quando o aceitei,
minha garganta sinalizou novamente. A surpresa vem porque tenho me sentido
muito bem comigo mesmo atualmente e eu sei o que mobiliza minhas dores de
garganta. Apesar de toda a felicidade e o sentido mais pleno que tenho dado
para o meu momento presente, sou obrigado a reconhecer que existe uma parte da
minha vida em que eu não me sentia assim.
Minha vida sem sol.
Para mim, o pior de uma vida sem sol não foi ter uma noite ruim ou uma madrugada insone. O que beirava o insuportável era não saber quando ou se, o dia voltaria a amanhecer. Era se sentir apartado, excluído de um ciclo natural da vida onde as coisas se renovavam, para sentir quase que de maneira concreta e palpável que tudo tinha parado, estagnado, que nada crescia, desenvolvia, caminhava. Não ver um nascer ou pôr do sol. Não escutar os primeiros cantos dos pássaros, não ver as flores desabrochando.
Era como se o filme da minha vida
tivesse pausado em uma cena muito ruim dele e eu não soubesse como fazer para
apertar o botão do play novamente. E ainda nem acreditava que as próximas cenas
poderiam ter algo de feliz. Essa convivência diária com dores profundas que atormentavam
e me isolavam cada vez mais.
Viver os dias naquele tempo era
algo bem difícil, desgastante. Já que falei de insônia: era como se eu não
conseguisse dormir toda noite e ainda tentasse “aproveitar” dessas horas para
fazer algo de bom para mim. Mas me faltavam forças e energias. Não dava
simplesmente para eu ficar bem porque, seja lá o que eu fizesse, não sentia que
estava fazendo porque eu queria, mas sim porque não tinha escolha de descansar
e me renovar.
Me sentia isolado e infeliz
quando via as pessoas acordarem para o seu dia parecendo estar felizes (hoje eu
sei que muitas também não estavam e não estão) e eu parecia ser um pobre diabo,
amaldiçoado, que não via graça em nada.
Sempre tive contato com
realidades sociais difíceis e pensava que eu devia ter algo de muito errado
mesmo por saber que tinham pessoas que passavam por situações “muito piores que
a minha” (hoje entendo melhor que sofrimento não se mede) e ainda assim tocavam a sua vida e eu ali me
sentindo no mesmo lugar.
Tudo parecia estar errado em mim.
Quando eu tentava ficar mais feliz, vinha sempre como algo forçado, muitas vezes uma compensação exagerada para encobrir a dor. Era como se eu precisasse me
manter bêbado por não conseguir lidar com a ressaca. Mas isso era muito
cansativo porque a ressaca parecia ser o meu estado natural de ser. Então, haja
fugas para não me conectar com aquela eterna sensação ruim com a minha própria
vida.
Ao olhar para tudo isso daqui, de
onde me encontro atualmente, gosto cada vez mais da frase:
"Se houve um dia na vida em que a liberdade parecia um lindo
sonho, virá também o dia em que toda a experiência sofrida no passado parecerá
um mero pesadelo." (Viktor Frankl).
Daqui de onde me encontro, me sinto feliz. Talvez de um jeito que eu não tinha imaginado nesse momento de uma vida sem sol. Não é uma felicidade de comercial de margarina, uma imagem cristalizada e morta sobre o que é ser feliz. Continuo com muitos desafios para serem trabalhados, mas não mais a partir daquele lugar tão desesperador e sem sentido.
Por fim, queria dizer para você,
que talvez se encontrou em algumas das coisas que falei sobre viver uma vida
sem sol, que existe sim a possibilidade desse sol voltar a brilhar. Que por
mais insuperável que possam parecer os tempos difíceis, existe a possibilidade
desse reencontro consigo mesmo e com a vida. Pode não ser fácil, pode não ser
suave, mas esse processo pode conter vários tesouros para a construção de uma
vida mais feliz e plena de sentido.
Talvez você precise de companhia
ao longo dessa jornada, para ajudar nessa travessia, para encontrar uma saída
dentro desse labirinto. Então, pensa com carinho e cuidado em procurar ajuda
profissional. Pede indicações para você se encontrar com alguém que você possa
confiar mais e tenta! Tenta não ficar refém do sentimento de que não tem nada
para ser feito. Você não precisa estar sozinho nessa!
sexta-feira, 5 de junho de 2020
#vidasnegrasimportam
Venho oscilando entre tristeza e revolta diante dos últimos acontecimentos que esfregam na nossa cara nossas mazelas sócio-culturais.
Não sei bem o que falar agora.
Por ora recorro à música pra expressar um pouco do que se passa comigo.
.
Lama Negra (Gonzaguinha)
Salve a lama negra
que grudou
Na sola branca dos pés
Salve as cantorias
Pelas noites na magia da fé
Salve esse cheiro de senzala
Que nosso povo todo exala
Salve esse grito dos Palmares
Sangue vivo nos cantares
Que a todos nós embala
Sambas e cirandas
Candomblés, maracatus e congadas
Crenças, lendas, lutas
Tradições pelos velhos plantadas
Coisas do rir e do chorar
Do sofrimento e da alegria
Dias de festas e saudades
Pelo tempo no cantar
Que nos traz felicidades
Força que nem o capataz
Capaz não foi de apagar
E que o futuro mostrará
Que o fruto vingará
E o filho do filho cantará (Repete 3 x)
#05| Podcast Revelando-Ser| "Mas, finalmente, o que é o abuso sexual?"
segunda-feira, 18 de maio de 2020
#04| Podcast Revelando-Ser| "18 de maio - Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes"
Para ouvir o episódio, clica aqui: #04| 18 de maio - Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e AdolescentesNo episódio de hoje recebemos um convidado muito especial: o psicólogo João Villacorta, que trabalha há 13 anos no CERCCA - Centro de Referência para o Cuidado de Crianças, Adolescentes e suas famílias em situação de violência.
#03| Podcast Revelando-Ser| "O muro do silêncio é real..."
sexta-feira, 15 de maio de 2020
Qual o lugar dos monstros?
domingo, 10 de maio de 2020
Hoje é um dia muito especial
O trabalho de parto começou em casa. Pensávamos que ele poderia nascer em casa, tal como foi com a nossa primeira filhota. Mas, também sabíamos que cada parto é um parto e que cada criança tem a sua história, que isso não está sob o nosso controle.





sexta-feira, 24 de abril de 2020
#02| Podcast Revelando-Ser| "Por que falar de abusos sexuais em tempos de pandemia?"
Ficha Técnica:
Vozes: Guilherme Assunção e Quezia Cordeiro
Gravação e edição: Marcelo Sena
Realização: Projeto Revelando-Ser
Gravado no dia: 01/04/2020
#01| Podcast Revelando-Ser| "Revelando o que?"
Como falei no post anterior, encontramos mais uma forma de contribuir com a desconstrução do muro do silêncio acerca das pessoas que foram abusadas sexualmente na infância e adolescência.
Estamos muito contentes e motivados com essa nova parte do nosso projeto, pelo fato de poder alcançar muitas pessoas com as nossas reflexões.
Neste primeiro episódio, eu e a Quezia Cordeiro falamos sobre a história do Revelando-Ser e porque é tão importante trabalhas com esta temática.
Estarei postando toda vez que tivermos novos episódios.
Para conhecer ainda mais o projeto, visite o revelandoser.org, pelo Instagram @revelando_ser ou pelo
e-mail revelandoser@gmail.com
Ficha Técnica:
Vozes: Guilherme Assunção e Quezia Cordeiro
Gravação e edição: Marcelo Sena
Realização: Projeto Revelando-Ser
Gravado no dia: 09/03/2020
sexta-feira, 10 de abril de 2020
Desconstruindo ainda mais o muro do silêncio: nosso podcast!
(Podcast Revelando-Ser)
O Segredo e o Abuso sexual (Por Luana Melo)
Trago para cara uma postagem feita por Luana Melo, assistente social do Revelando-Ser, para pensarmos um pouco mais sobre o silêncio que marca tanto as pessoas que foram abusadas sexualmente na infância e adolescência.
Falar pode mudar tudo... E o Muro do Silêncio?
Falar pode mudar tudo... E o Muro do Silêncio?
quinta-feira, 9 de abril de 2020
Saindo do Silêncio
segunda-feira, 6 de abril de 2020
O paradoxo de quem precisa correr tanto para desacelerar
"Não podemos voltar ao normal porque o normal era exatamente o problema. Precisamos voltar melhores. Menos egoístas. Mais solidários. Mais humanos".
Logicamente que eu não estou querendo dizer que cada coisas dessas não possa ser, em si, muito bom para que possamos fazer algo de útil e proveitoso durante a quarentena. O que me preocupa é a manutenção de um tipo de funcionamento que só muda de conteúdos, mas que permanece com o mesmo imperativo de ter que correr tanto para dar conta da vida novamente. Então não acho que o “problema” esteja na qualidade das coisas estão sendo feitas, mas sim, na sobrecarga que se acumula e faz com que a vida pareça ficar com muito mais autonomia e bem-estar, mas, que no fundo, reproduz uma mesma lógica robotizada e desconectada se não se tiver cuidados. O fato de termos que nos isolar não garante que a velocidade diminua. Muitas pessoas aceleraram e muito dentro dos limites que a quarentena impõe.
Se você estiver precisando de ajuda profissional, pode entrar em contato comigo através do meu whatsapp: (81) 99840.8940
quarta-feira, 18 de março de 2020
Cada casa será uma ilha? Sejamos Pontes!
Atualizado em 30.03.2020
Ainda como outra possibilidade de cuidado, que não é a psicoterapia propriamente dita, está sendo realizada por vários profissionais que se reuniram para oferecer apoio psicológico neste período de pandemia e quarentena. Existem algumas iniciativas que já estão sendo oferecidas nesse sentido. A que eu estou mais próximo nesse momento, já inscrito para participar como psicólogo voluntário, é um serviço de plantão psicológico on line. Quem estiver precisando de suporte psicológico, ou queira conhecer um pouco mais sobre o projeto, pode acessar o site: https://www.conexaoafetiva.com.br/
Essa e outras iniciativas podem ser vistas no site: www.janeirobranco.com.br/
Alguns textos estão falando que esse momento está exigindo que todos nós olhemos para dentro de nós mesmos para repensar sobre a nossa vida. Porém, talvez, fazer esse mergulho solitariamente seja mais difícil. Então que possamos nos colocar como pessoas disponíveis a cuidarmos uns dos outros nesse momento. Estamos precisando nos isolar, isso é um fato. Porém, não precisamos ficar ilhados.
Que sejamos pontes de cuidado!