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O Mundo aos Olhos de um "Misantropo"
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26.06.2012
De cara, queria começar esclarecendo o porquê das aspas do misantropo. Tal como tem no “Quem sou eu?” não sei me definir ao certo porque me acho uma mistura de coisas, inclusive sendo atravessado por aspectos contraditórios e, aparentemente, irreconciliáveis. Porém, o misantropo aparece como resultado desta forma atual de estar no mundo, mesmo que estando entre aspas. (Durante os textos postados, excluindo os casos de citações literais, as aspas vão cumprir essa função de mostrar que o que está sendo falado pode ou deve ser questionável ou relativizado). Mas por que as aspas? Ao se pegar a palavra misantropia, no seu sentido etimológico vai se ter a junção de ódio + humano remetendo-se a uma aversão pelo humano, ou expandindo mais, pela sociedade. Sinto que este sentimento não consegue dar conta de como as coisas se passam em mim Porém me identifico em muitos momentos com características que geralmente se atribuem aos misantropos:
O Mundo aos Olhos de um "Misantropo"
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26.06.2012
De cara, queria começar esclarecendo o porquê das aspas do misantropo. Tal como tem no “Quem sou eu?” não sei me definir ao certo porque me acho uma mistura de coisas, inclusive sendo atravessado por aspectos contraditórios e, aparentemente, irreconciliáveis. Porém, o misantropo aparece como resultado desta forma atual de estar no mundo, mesmo que estando entre aspas. (Durante os textos postados, excluindo os casos de citações literais, as aspas vão cumprir essa função de mostrar que o que está sendo falado pode ou deve ser questionável ou relativizado). Mas por que as aspas? Ao se pegar a palavra misantropia, no seu sentido etimológico vai se ter a junção de ódio + humano remetendo-se a uma aversão pelo humano, ou expandindo mais, pela sociedade. Sinto que este sentimento não consegue dar conta de como as coisas se passam em mim Porém me identifico em muitos momentos com características que geralmente se atribuem aos misantropos:
- Uma tendência, que beira a condição de necessidade de estar só, de ficar comigo e com os meus pensamentos, sentimentos, lembranças, etc. Isso parece estranho aos olhos dos outros que nem sempre entendem, principalmente quando se trata de um evento social. Posteriormente acho que posto algo em relação a isso;
- Um olhar crítico em relação ao ser humano, a começar por mim mesmo. Esta postura, que as vezes me pergunto se é deliberada ou não, me toma muito tempo e energia quando eu paro para pensar em coisas que a maioria das pessoas, pelo menos as do meu convívio, não parecem muito interessadas em pensar. Este movimento gera sentimentos contraditórios que variam desde o prazer de se reconhecer diferente – quando acredito que a marcha não caminha para algo que eu acho humanamente útil – até um sentimento de desadaptação e dúvida. Fico me perguntando se, de fato, eu não deveria deixar certas coisas de lado para poder trocar mais de perto com pessoas que tanto estimo. Bem esta é uma questão mal resolvida e ora assumo um extremo, ora assumo outro e na maioria das vezes fico em estágios intermediários entre um e outro, mas geralmente não é muito confortável ser tão crítico comigo e com os demais;
- Pensando na aversão pelo ser humano, me sinto diferente disso também. Ademais sinto brotar em mim espontaneamente um profundo interesse em tudo que diz respeito ao humano. Contudo, talvez por questões de ordem biográfica, as tensões e contradições que existem atualmente no mundo em que vivemos (provavelmente sempre existiram estas ou outras tensões, com outras roupagens) ganham em mim um peso que, por vezes, é difícil suportar. Dentro desta condição pesada, me vejo tendo que fazer um esforço para conseguir ter uma conversa “normal” com qualquer pessoa. Conversas estas mais leves, triviais, sobre tudo e nada, que também fazem bem. Contudo, quando estou imerso nos meus pensamentos sobre estas contradições, sinto como se fosse uma perda de tempo e demoro para encontrar sentido em estar conversando sobre tantas outras coisas que, ao meu ver, são tão menos importantes e urgentes. Este estado não é constante em mim, mas em alguns momentos é quase insuportável uma situação social. Voltando à relação com a humanidade. Acredito que consigo visualizar muitas coisas “boas” e “ruins” ao mesmo tempo em um fato, pessoa, pessoas ou grupos, etc., mas me sinto muito afetado e mobilizado por questões sócio-culturais que, muitas vezes, não permitem um reconhecimento destes dois aspectos da mesma moeda para todas as pessoas. Tenho me sentido muito envolvido por discussões que permeiam as diferenças de classes sociais e acredito que, de um ponto de vista estrutural, não são dadas as mesmas condições humanas para a experimentação de experiências boas e ruins no cotidiano das pessoas. Acaba acontecendo um desserviço social e não me refiro apenas para aqueles que são “desfavorecidos” socialmente – que talvez tenham uma maior probabilidade de vivenciar aspectos difíceis e “ruins” da vida –, mas também para as pessoas “mais privilegiadas”, as quais, muitas delas, podem viver alienadas de várias facetas da existência que poderiam muito enriquecer as suas vidas. Enfim, deve parecer vago, falando assim genericamente, mas é assim que me sinto diante de algumas coisas.
Concluindo as aspas do misantropo, reforça-se em mim a ideia de que só é possível me identificar com ele se houver esta margem para se entender que o ser humano sempre escapa às definições que queiram reduzir sua complexidade (talvez, inclusive desta última também...rs)
Outro ponto que achei digno de nota nesta apresentação diz respeito ao relativismo contido no título do blog. Em tempos de pós-modernidade (em minha opinião, com uma grande contribuição da psicologia), tenho me preocupado com este aspecto, onde reconheço a importância de se ter dissolvido estruturas rígidas que faziam parte da dinâmica social e que causaram tanto sofrimento outrora, porém, sinto cada vez mais que jogamos o bebê junto com a água suja. Eu me incomodo com o “tudo pode, dependendo do ponto de vista”, “tudo é relativo” e por aí vai. Parece que no meio de tanta subjetividade, individualismos, e mundos privados, a idealização de projetos coletivos que “valham a pena” parece cada vez mais rarefeito. Esta também é uma questão que escreverei posteriormente. Então se me incomoda o relativismo, por que colocar o mundo “aos meus olhos”, tipo, falar de como percebo e não das coisas em si? Poderia enveredar-me por uma discussão interessante sobre realidade, percepção, objetividade, subjetividade, linguagem, sobre a implicação de quem observa e por aí vai. Porém na falta de gás para tal empreitada, restrinjo-me a dizer que falo de mim porque quero falar do sentido que as coisas têm para mim. Se eu me arvorasse em falar a partir do imperativo de saber o que as coisas são (se é que isso é possível) me perderia com o peso desta responsabilidade e não escreveria uma linha. Então falo de mim, da minha experiência. Logicamente que não acho que esteja vivendo um mundo só meu, sem atravessamentos de diversas ordens e acredito que existe uma possibilidade de dialogar a partir dele sobre várias coisas. Afinal de contas, me interesso muito sobre o que é social e coletivo. Se o que aqui postar fizer sentido para outras pessoas, talvez me sinta menos misantropo...rs. Porém, se não fizer sentido e, ainda assim, houver a possibilidade de um diálogo construtivo, a partir destes mundos diferentes, será um prazer rever, criar, recriar, co-criar os mundos. Acredito ser fundamental procurar consensos e dissensos capazes de se pensar o estado em que chegamos sócio-culturalmente falando.
Ainda como apresentação, pensei no porquê do “misantropia em foco” e cheguei na seguinte questão:
Algumas coisas que me mobilizam não são totalmente desconhecidas e inacessíveis para uma boa parte das pessoas no seu dia-a-dia. Algumas coisas são específicas, fazem parte do cotidiano da minha profissão, mas gosto muito de pensar sobre coisas corriqueiras, “triviais”, que acontecem aqui e ali, mas que, para mim, torna-se cada vez mais urgente pensar sobre elas, devido aos seus vários impactos negativos na sociedade. Então, de vez em quando me pergunto sobre os mecanismos que as pessoas usam para lidar com as contradições, mas não se deter um pouco mais sobre elas. Neste sentido, é como seu pegasse “qualquer coisa” e quisesse focar mais naquilo a ponto de gerar alguma problematização. Não penso assim advogar em prol de um “olhar puro”, como se “as coisas estão aí pra todos olharem e vê quem quer” ou voltar a discutir a questão de uma realidade para todos e que todos deveriam ver tal como eu vejo. Sei que a percepção que vou ter das coisas depende das ferramentas que me foram disponibilizadas durante o percurso da minha vida e que, dependendo de quais aceitei e desenvolvi, posso ter um olhar diferente do que existe ao meu redor. Entretanto, tendo a acreditar que não é por falta de ferramentas que algumas coisas não são problematizadas e não falo aqui de pessoas que socialmente são chamadas de “corrupta”, “sem caráter”, “sociopata”, “psicopata”, “desviante”, “louca” ou qualquer outro rótulo ou jargão que esteja mais em moda no momento. Falo das pessoas “de bem”, “conscienciosas”, “caridosas” e que se preocupam com o bem-estar social. No momento atual, ainda mais com o desenvolvimento tecnológico da comunicação, conseguimos em pouco tempo ter acesso a muitos “fatos” e fenômenos sociais que não dá para fingir que não vemos ou sabemos. Ademais, basta andar no meio da rua de qualquer centro urbano para se ter uma infinidade de coisas para se pensar. Existem pessoas que tem um contato maior com as consequências desta estrutura social de desigualdade em que vivemos, porém, ao mesmo tempo, não possui uma disponibilidade maior para ir além do que muitas vezes é cobrado dentro da sua profissão. Tenho mais ideias soltas acerca desta temática e fica pra outras postagens também. Concluo que a partir desta misantropia em foco, vou estar exercitando minha forma de estar no mundo, porém tentando focar em aspectos que acho pertinentes.
Agora é um “enfim” de fato. Esta apresentação ficou deveras grande, talvez pelo fato de sentir uma vontade de escrever sobre várias coisas (acho que deu para perceber pelos vários “depois posto sobre isso”...rs). Por fim, espero encontrar algo de humanamente útil a partir deste espaço, nem que seja para organizar este “mundo” de coisas que me atravessam para poder construir algo em cima disso.
Espero não ter viajado demais...
Até as próximas viagens cotidianas...
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