sábado, 9 de junho de 2018

(OM) "Seja a mudança que você quer ver no mundo" (Mahatma Gandhi)

O Mundo aos Olhos de um Misantropo
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29.08.2013

Quanto tempo sem escrever...rs
Durante esse quase um ano, já tinha pensando inúmeras vezes sobre o último post escrito ter sido justamente o que eu falava que estava depurando o veneno. Parecia que eu só sabia alimentar a minha vontade de compartilhar o que tinha dentro de mim se estivesse pautado no meu veneno. Voltando a escrever aqui percebo que posso continuar me expressando a partir de um outro lugar. Este post é a prova mais concreta disso.
Como vocês sabem, não é de hoje que me preocupo com o mundo em que vivo. Sempre gostei de livros, músicas, filmes, etc. que trouxessem reflexões sobre o que acontece em nossas vidas de “bom” e de “ruim”. Com o passar do tempo percebi que algumas coisas que eu considerava boas, não eram tão boas assim, bem como reconheci situações muito difíceis que me trouxeram grandes aprendizados e que hoje em dia fazem parte do meu tesouro pessoal.
Aqui neste blog pude colocar para fora certos incômodos e críticas acerca de temas que são importantes para mim e que eu sentia que podia contribuir com mudanças na sociedade, a partir das coisas que via no meu cotidiano pessoal e profissional. Ainda continuo com a mesma preocupação, incômodos e vontades de fazer algo que provoque mudanças, porém, sinto que de um lugar bastante diferente do qual me situava quando escrevia anteriormente. Não sei bem se ainda faz sentido continuar escrevendo desse novo lugar aqui. Me sinto muito menos misantropo...rs. Talvez ainda possa usar desse espaço para colocar minha nova maneira diferente de ver a vida. Mas tenho certeza que a partir de um lugar de muito mais tranquilidade dentro de mim.
A partir de novas experiências pessoais, terapêuticas, espirituais, passei a vivenciar muito mais intensamente aspectos e conceitos que já entendia racionalmente sobre como tudo neste mundo está interligado e a implicação disso para a construção de uma sociedade mais justa para todos, de fato. A diferença entre o passado e o presente reside no fato de que certas contradições percebidas anteriormente alimentavam muitas críticas, julgamentos, raivas, etc. em relação ao que eu considerava errado na sociedade. Eu vivenciava estas coisas de maneira muito intensa – como eu acho que vocês puderam ver – porque sempre conseguia ver a urgência de certas situações, e me incomodava bastante com tod@s que não se preocupavam com o mundo da mesma forma que eu. Esta situação era muito angustiante e fazia com que eu me sentisse impotente, frustrado, sentindo certa aversão e isolado/separado do resto das pessoas que estavam à minha volta. Por isso o Misantropo do blog.
Reclamava da sociedade, onde também me incluía, apontando o egoísmo, individualismo, indiferença, irresponsabilidade e outras críticas severas, muitas delas pertinentes. Mas algo que estava de pano de fundo era a minha incompreensão e revolta pela falta de sentimento de união entre as pessoas, o qual contribuía para que as pessoas só pensassem em si e nos “seus”, não se preocupando muito com os demais.
Com essas mudanças percebi que eu estava reclamando de algo, acusando algumas pessoas – ou até grupos de pessoas – de serem preconceituosas, de se acharem mais importantes, de não se colocarem como iguais com os outros, de não buscarem uma maior vivência de estar em união com todos e, ao mesmo tempo, estava fazendo a mesma coisa com eles. Eu me senti sendo “intolerante com os intolerantes, injusto com os injustos e impiedoso com os impiedosos” (Austro Queiroz). Percebi que eu estava querendo construir um mundo de paz, alimentando guerra contra uma boa parte do mundo; querendo trazer uma reflexão sobre solidariedade pautada em julgamentos e críticas, muitas vezes generalistas, que não davam conta da complexidade que é o viver em sociedade; querendo que todos entendessem o sentido do “Somos todos um”, me separando de pessoas, inclusive muitas destas sendo pessoas muito próximas e queridas por mim. Mais importante ainda, percebi que eu queria levar paz para o mundo, sem conseguir nem ter paz comigo mesmo. Volto para a frase do Gandhi.  
Dentre estas coisas todas que falei percebi que eu alimentava muita energia de separação com o mundo a partir das minhas críticas e julgamentos. Não acho errado ter senso crítico e procurar expressar as coisas que não estão contribuindo para uma melhor vivência comunitária, social, cultural, ambiental planetária, etc. Mais do que nunca sei algo que acontece do outro lado do mundo tem influências diretas e indiretas na minha vida. Em decorrência dessa vivência, sinto cada vez mais a implicação de todos para uma mudança deveras coletiva. Porém, sinto que na minha experiência, depois de alimentar muitos sentimentos negativos dentro de mim para sustentar o meu olhar crítico em cima de muitas coisas “negativas” que eu via, percebi que quero ficar mais em paz comigo e com todos à minha volta, para, a partir deste lugar, poder realizar as mudanças significativas que tenho poder para realizar. Confundi durante muito tempo, o “indignar-se” com “entrar em guerra contra algo”, sofrimento pelo estado atual das coisas. Como se só fosse possível encontrar forças para mudar a atual situação se ela estivesse pautada em sofrimento. Mas o sofrimento sempre era embasado por: “pessoas más ou inconscientes fazem coisas erradas prejudicando toda a sociedade. Enquanto eu que tenho um pouco mais de consciência fico de mãos atadas por não poder fazer nada contra essa maré”.
Quanto julgamento dos outros e de mim mesmo! Este meu novo estado de espírito não significa dizer que as coisas estão “mais certas” e por isso não se deve fazer nada. Indica apenas que tenho muito que fazer, mas que quero fazer isso a partir de um lugar de união com as pessoas e não a partir das críticas e sofrimentos. Muitas mudanças são necessárias e urgentes, mas procuro compreender isso de um ponto de vista mais amplo para mim e, de um lugar de calma interior, busco ver o que posso fazer para contribuir com estas mudanças.
Não posso dizer que estou vivenciando 100% esta nova forma de ser. Para quem estava tão acostumado com uma maneira de ser no mundo, é um desafio encontrar novas possibilidades de fazer a “mesma coisa” de um lugar diferente. Parece que do lugar dual da minha mente só existia duas possibilidades de lidar com esse estado caótico e contraditório no qual vejo a sociedade: ou eu brigava com tudo e com todos, doendo em quem doesse, querendo derrubar toda a estrutura que está aí, para poder reconstruir em cima dos escombros; ou me sentia igual a todos que criticava, sendo meio alienado, hipócrita, acomodado, individualista e, em última instância, alimentando o status quo, por me beneficiar dele e não contribuindo para mudar nada. Bem o raciocínio da mente: ou isso ou aquilo. Percebo que existem outras formas...rs 
Estou neste caminho de manter o meu interesse, meu foco e a minha energia em querer também mudar as coisas que estão à minha volta, mas para isso eu tenho que começar encontrando um lugar de mudança dentro de mim mesmo.
Neste momento entendo que no meu processo de querer mudar as coisas, a energia de separação com os outros através das críticas e julgamentos não estava me ajudando a ser mais efetivo no que eu queria. Talvez para outras pessoas seja bastante diferente. Não quero colocar que não seja importante existirem pessoas que atuem como eu estava agindo, ou até mais radical ainda. Sei que aquela forma não estava me fazendo bem. Talvez para algumas pessoas tudo isso que eu sentia como um peso sirva de fato como um motor para a transformação. Parecia ser assim comigo, mas estou em busca de outras formas. Sinto que posso abrandar alguns sentimentos dentro de mim por confiar que não corro mais o risco de me acomodar com o estado atual das coisas. Tenho certeza que vou continuar buscando formas de contribuir e trabalhar pelas coisas que acredito.
Queria ainda agradecer a todos com quem conversei, convivi, discuti, trabalhei e por aí vai. Neste caminho de encontrar o meu lugar foram muito importante as trocas e sei que elas vão ser ainda mais no futuro, só que desse lugar diferente aí que eu falei.
O desafio agora é encontrar que nova forma é essa. Sinto que este post é como se fosse um fechamento de um ciclo para mim. Mas sei que tenho energia e motivação suficiente para encontrar este novo Guilherme, mais em paz consigo, e consequentemente, com mais luz para levar para todos os lugares onde eu for.
Quando eu coloquei no facebook a minha última postagem no ano passado, uma psicóloga e amiga comentou algo que ficou ressoando dentro de mim, mas que eu ainda não conseguia vivenciar o que ela estava me trazendo. Fecho esse post citando-a como um resumo do que eu quis trazer aqui. Muito obrigado, Soninha.
Vou indo agora.
Abraços pra tod@s

ps: Eu poderia falar um pouco mais sobre o que mudou dentro de mim, mas não quis fazer algo muito explicado não...rs... Será que escrever menos é mais uma mudança??? rs
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Querido Guilherme, sinto-me profundamente tocada com o seu relato/desabafo. Num outro momento, seu relato pessoal levou-me a me centrar em você. Neste momento ele levou-me a centrar-me em mim mesma. Eu não posso e não quero servir de referência para você, nem para ninguém. Quero que saibas o quanto admiro sua força, sua coragem, sua busca e a sua consciência. A agudeza de sua consciência pode conduzi-lo, inevitavelmente, ao sofrimento. Na minha vida (e talvez esta experiência não te ajude) eu aprendi que me fixar na dor, na tristeza e na revolta me enfraquecem. Eu consigo ser efetiva na minha ação, seja ela qual for, e eu já me vi mudando muitos contextos adversos, quanto eu me foco na minha força interior, na Centelha Divina que habita em mim. Um abraço apertado para você e outro para Isabel. Sonia Gusmão

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